Conto - Liberdade para Aprender - Parte 1
— Formem uma fila, por favor! — gritou uma voz velha de um goblin barbudo.
Gesticulou com as mãos para todos se apertarem. Em sua frente, vários jovens de diversos povoados começaram a se ajeitar. Magos folhearam seus livros pesados de magia para não esquecer de algum detalhe importante, os bruxos cuidavam de seus focos para mostrar responsabilidade com seus deveres arcanos e os feiticeiros fizeram gestos no ar para matar o tempo.
Não muito distante desse murmúrio todo, uma carroça com um monte de caixa parou ali mesmo, um anão com um chapéu de palha e barba enrolada em tranças bate na parte de trás.
— Já chegamos filho, pode sair.
Uma das caixas se mexia, a tampa dela foi aberta, saindo de lá um elfo com pele morena e cabelos curtos de cor castanho. Olhou para os dois lados preocupado, rapidamente saindo da caixa e ficando em pé no chão.
— Obrigado moço, eu queria ter mais para te pagar por essa ajuda… — O elfo tateava sua roupa atrás de alguma moeda a mais.
Mas logo o anão colocou a mão em sua frente, parecendo negar seu pedido.
— Eu pedi a quantia e você pagou tudo, boa sorte garoto! Desejo-te sorte!
O elfo sorriu para ele, logo se despindo do anão, para olhos mais curiosos, parecia mais uma despedida de pai para filho. Após isso, o jovem elfo adentrou na fila quieto, esperando chegar o seu momento de inscrição.
Olhares estranhos eram direcionados para ele, não entendia o tal motivo, era sua aparência? Será que cometeu algum desrespeito arcano? Não olhava de volta, pois tinha medo de arranjar alguma briga.
— Coitado…
— Ele veio de lá mesmo?
— Não é muito longe daqui?
Dava para ouvir os sussurros dos outros participantes na fila, ele apenas ignorava tudo, até ser o próximo da fila para fazer sua inscrição.
— Bom dia Jovem, por favor, dizer o seu nome… — O goblin parou de falar por um momento, olhando para o elfo.
— Meu nome é Aantarius senhor — respondeu o elfo, esperando a próxima pergunta.
O goblin retirou um pequeno caderno de seu bolso, o folheando rapidamente até parar, seus olhos pareciam ler rapidamente.
— De onde você veio rapaz? — perguntou o goblin para ele, olhando com certa preocupação.
— Vim do império Tapista senhor…
Seu coração bateu forte nesse momento, não pesquisou muito sobre a academia pois não teve chance para isso. Apenas conseguiu dicas de viajantes e camponeses durante sua viagem até Wynlla.
Pobre rapaz. Goblin ficou triste em ouvir isso, não pelo elfo, mas pelo que deve ter sofrido para vir até cá. Não era difícil deduzir que Aantarius veio de lá, vestia uma túnica de cor azulada já desgastada com sandálias sujas de terra. Mas os outros arcanistas estavam falando por suas costas, por mal ou por bem.
Nas costas do elfo, uma marca de queimado era notável perto de seu ombro. Apenas dando para ver uma parte de algum tipo de símbolo, isso deixou todos ali assustados em pensar na história por trás dessa marca.
— Eu ouvi dizer que existe um programa de bolsas…
— Hm? — O goblin olhou para ele novamente, parecendo voltar de seus pensamentos. — Ah sim! Temos sim, mas é mais difícil do que o normal…
— Não tem problema, eu aceito os requirimentos.
O goblin logo escreveu em um papel em sua frente, dando um sinal positivo para Aantarius.
— Pode seguir por ali jovem, que o próximo moço vai te guiar melhor.
— Certo, obrigado pela oportunidade!
Esse saiu já entusiasmado para a direção apontada. O goblin dá um suspiro, gritando para aquela fila de arcanistas.
— Próximo!
Aantarius ao chegar na próxima área, viu que estava já cheia de outros participantes como ele, conversando sobre assuntos variados, estudando antes do início da primeira prova ou apenas descansando. O elfo caminhou distraído olhando para sua volta, onde acabou de esbarrar em uma pessoa daquela multidão.
— Ei! Olha por onde anda! — respondeu em agressividade o desconhecido.
— Desculpa… Não estava prestando atenção.
Ao olhar para o outro, viu ele portando túnicas mais novas e de cores saturadas, um vermelho sangue que chamava atenção. Cabelos longos e loiros, carregando uma varinha feita com adornos requintados em sua volta. O humano olhava para o elfo com desdenho.
— Não estava prestando atenção… Uhum, sei! — Cruzou os braços, parecendo irritado com a resposta dele — Você sendo da ralé dando esse tipo de desculpa.
— Como? — Aantarius ficou surpreso com a agressividade, dando passos para trás — Eu não fiz por querer…
— Se você não estava olhando para frente, então não foi sem querer.
A discussão chamou a atenção de todos os outros, que se aproximavam para ver o fim dessa briga. Alguns falavam o quão infantis estavam sendo, outros torcendo e fazendo apostas em quem ganharia numa briga.
— Essas suas roupas não parece ser adequadas para alguém da magia… — O arrogante arcanista olhou de cima para baixo o elfo, analisando suas vestes.
— Eu não tenho dinheiro para comprar algo novo…
— Então é pobre, nem sei como conseguiu chegar aqui — riu enquanto zoou do elfo — Ainda mais um elfo, achei que vocês estariam melhor no império dos Minotauros.
Um silêncio desconfortável pairou ali, muitos concordaram que a linha foi passada naquela frase, alguns já vazaram dali para não se darem mal, os mais curiosos olhavam para o elfo.
Sua expressão mudou, aquele sorriso calmo que tinha, seu rosto de preocupação e nervosismo se tornou uma fria e apática. O humano em sua frente se assustou com a mudança rápida.
— Sabe, você só fala isso porque foi mimado pelo seus pais, se tirar isso de você — Ele se aproxima do garoto, falando com uma voz monótoma — Você seria a mesma ralé que eu…
Logo se afastou, o rosto do humano ficou vermelho com essa afronta, o público gritou de euforia com a resposta. O humilhado puxa sua varinha, apontando para o elfo.
— Que tal a gente resolver isso então…
Ele era interrompido por grito vindo de um dos professores.
— Todos formem uma fila! Os testes já vão começar!
O humano olhou com raiva para o elfo, guardando a varinha em sua roupa. Virando de costa para ele.
— Você teve sorte, na próxima vez não tera Nimb ao seu lado…
E saiu batendo pé, resmusgando enquanto iria para a fila. O elfo respira calmamente, voltando a seu semblante calmo e tímido, se preparando para o primeiro teste. Não queria nenhum problema a mais do que ele se meteu.
A fila já se formou rapidamente, monte de arcanistas novatos estavam nervosos por medo de falhar, o elfo os viu sendo direcionados para runas feitos no chão, que quando em cima deles, somem misteriosamente.
Logo tinha chegado sua vez.
— Nome, por favor — falou o professor, um osteon com um chapéu pontudo.
— Aantarius…
— Você é o elfo… Certo! Vá para… — Olhou para trás, analisando a situação — Vá para aquela runa.
— Certo, obrigado! — O elfo caminhou até lá, animado, mas profundamente nervoso.
Ao subir em cima da runa, sentia seu corpo ficar dormente por um momento, fechando os seus olhos por medo. Ao abrir novamente, se viu em uma sala de aula, com apenas uma professora sentando em uma mesa.
— Seja bem-vindo! Por favor, sente-se — falou uma elfa com cabelos pretos, amarrando em um rabo de cavalo.
Ele se senta na cadeira, ficando de frente para ela. A elfa arrumava alguns papéis em sua mesa, logo falando num tom calmo.
— O primeiro teste é uma de aptidão, é apenas para testarmos se conhece o básico sobre o caminho mágico — Ela pega uma caneta pena, em seguida um pequeno caderninho, escrevendo alguma coisa — Como aderiu ao programa de bolsas, em vez de responder cinco perguntas, responderá sete, entendido?
Aantarius fez um positivo com a cabeça, compreendendo os riscos em geral.
Certo! — continuou a elfa, pegando uma das folhas na mesa — Pode me falar as principais escolas da magia?
Ele ouviu falar sobre as escolas antes, não de forma detalhada, apenas superficialmente. Conseguiu perguntando para estranhos e sendo chato com arcanistas que encontrou em seu caminho.
— Abjuração, Adivinhação, Convocação, Encantamento… — parou de responder por um momento, pensando qual próxima escola ele ouviu falar — Evocação, Ilusão e…
A elfa notou seu nervosismo nele, mas não falou nada, estava testando como ele se sai em sob pressão.
— Transformação?
A elfa olha para o papel, escrevendo com sua caneta pena, não falando muita coisa.
— Segunda pergunta, qual a diferença entre magia arcana para magia divina?
Sabia o que responder sobre a magia divina, era concedido dos deuses para os devotos. Mas o que fez ele ficar apreensivo foi sobre a magia arcana. Não sabia qual resposta podia falar, muitos falaram que a magia é da energia dos seres vivos, outros apontaram que podia ser um poder inato vindo de você mesmo ou até puxar de outro plano mágico.
— É… A diferença entre a magia arcana é… — Deu uma pausa em sua fala, tentou lembrar de alguma informação útil — É que ela vem da terra… Mundo! E a magia divina vem dos deuses…
A avaliadora anotou no papel, logo olhando para ele novamente.
— Terceira pergunta, qual a deusa que representa a força arcana?
Essa não era difícil, seu convívio no império não cedeu informações sobre magia, mas sabia quase tudo sobre a sociedade de Arton.
— É Wynna, a deusa da magia.
A elfa anotou novamente, olhando para o elfo novamente.
— Quarta pergunta, quais maneiras podemos canalizar nossas magias?
O elfo ficou preocupado com essa pergunta, pois ela pode ser muito abrangente, quando perguntou sobre isso, muitos falaram que podia ser por gestos, livros, varinhas ou até de você mesmo. Era confuso para o elfo, então ele teria que tentar chutar a melhor resposta que veio em sua mente.
— Depende muito… Pode ser por livros mágicos, varinhas e… — Parou sua resposta no meio, com dificuldade em continuar com a resposta — Gestos… Gestos também.
A elfa olhou para ele por um momento, voltando para o papel em sua frente, anotando mais algumas palavras. Aantarius ficou nervoso naquele momento, não soube se acertou a resposta ou não, balançava sua perna de nervosismo.
— Quinta pergunta, me explique em detalhe sobre uma das escolas da magia.
Pensou muito naquele momento, vendo qual das escolas ele sabia mais, ele decidiu então escolher a mais fácil para ele.
— A escola da ilusão faz os outros terem percepções diferentes, mas que não são reais…
A elfa anotou no papel, olhando para a folha lado, voltou a olhar para ele. O elfo ficou mais nervoso ainda, não sabia que as perguntas sobre magia eram tão difíceis, queria ter se preparado mais, mesmo não podendo ser possível.
— Sexta pergunta, o que são os círculos da magia?
O elfo não sabia responder, nunca ouviu falar sobre isso, se ouviu, foi de maneira totalmente rápida e rasa. Ele tentou conter o nervosismo, mas era difícil esconder em seu rosto.
— Não sei o que é isso…
A elfa arregalou os olhos por um momento, olhando em seguida para o papel ao seu lado, refletindo sobre algo. Anotou com sua caneta sobre o papel principal.
— Certo, última pergunta, o que é magia para você?
Aantarius estranhou essa última pergunta, ela não pareceu ser técnica ou direta que nem as outras, mas mais para uma pergunta de opinião pessoal. Ele respirou por um momento.
— Magia para mim é algo que todos devem ter acesso, para ajudar aqueles que necessitam… — Suas mãos cerram sobre suas pernas — Se eu tivesse isso em minhas mãos, eu ajudaria pessoas que estão na mesma situação que eu…
A elfa ficou olhando para ele por um momento, logo anotando rapidamente em seu papel, trocava olhares entre as duas folhas na mesa. Até olhar para ele com um sorriso simples.
— Parabéns! Passou do teste de aptidão, só voltar e falar com o senhor de antes que foi aprovado.
Aantarius sorriu, aquele peso em suas costas sumiu, ele se levanta, apertando a mão da elfa em entusiamo.
— Obrigado! Muito obrigado!
— Ah, não precisa agradecer, é o meu trabalho…
Antes de terminar, o elfo saiu apressado, uma chama de esperança ardia em seu coração. Após ele sair, a elfa deu um suspiro cansado, olhando para a ficha dele na mesa.
— Império Tapista… Me pergunto como que ele saiu de lá…
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